Custodiar o territorio

Artigo publicado por Mónica González no nº 162 da revista Novas da Galiza en dezembro de 2017.

No primeiro encontro de Mulheres em transição (Junho de 2015), ouvi frases que levavam tempo a rondar no meu corpo e ali assentaram na minha cabeça (ou foi ao revés?) Uma delas saiu da companheira Begoña de Bernardo Miño, a falar de que somos habitantes dos nossos territórios, que a nós corresponde cuidar e usufruir… desde aquela sei que prefiro identificar-me como habitante antes do que como cidadã.
Se algo de bom pudo ter a tragédia dos incêndios, foi ativar uma consciência e um novo questionamento do nosso monte e o nosso rural. Apesar de tudo, houve uma resposta rápida organizada: além das mobilizações maciças, listas de voluntariado para recuperar os solos e replantar, concertos de apoio, o canal contra-informativo Tramalume, a recolhida de ajuda a animais feridos transbordada… Como no momento do Prestige, as habitantes desta nossa terra tomaram a iniciativa.
Em momentos assim sentimos mais a importância do trabalho diário de quem leva muitos anos neste campo: Ridimoas, Amigos da Terra, a mancomunidade de Vincios, Cousa de Raíces… por nomear só alguns exemplos de gestão popular e sustentável.
Nesta ocasião vou-me centrar numa iniciativa pouco conhecida, a figura das entidades de Custódia do Território.

Hai uns anos assisti a uma palestra que começava com uma foto de Stonehenge (a National Trust do Reino Unido tem 10.000 pessoas empregadas). Era a entidade Fragas do Mandeo, e nas suas palavras… “A custódia do território é uma fórmula de conservação do patrimônio natural e cultural empregada con sucesso em numerosos países (…) O seu objetivo é criar um fundo de conservação da natureza na comarca (As Marinhas corunhesas), que permita mercar fincas de interesse natural para a proteção dos hábitats prioritários. Deste jeito poderemos cuidar da paisagem e dos bosques, assegurando um futuro para as espécies de animais e plantas que conformam a biodiversidade destes ecossistemas.” Através da compra ou de cessões de longa duração em acordos com a vizinhança, montes são limpados e recuperados para o bosque autóctone.

E desde 2015 temos formalizada a Rede galega de custódia do território.
Não é questão de negar outras maneiras de fazer, por exemplo lutar por mudar as leis; estou convencida de que cada estratégia tem o seu lugar. Como dixo uma companheira num debate análogo sobre bioconstrução, podes lutar “de dentro do muro ou de fora”; em vez de vê-lo como divisão… acho que a empurrar dos dois lados, melhor derrubaremos o muro.
Quando os muros são muralhas de eucaliptos, a possibilidade de derrubar literalmente, e autogerir, responsável e coletivamente pedaços reais e concretos de monte… é tentadora demais.
Inspirada pelo exemplo de Fragas de Mandeo, neste ano que acaba nasceu Brexa, a entidade de custódia de Carral (também nas Marinhas), que já anda na limpeza de um monte cedido por uma vizinha. Oxalá esta mecha prenda, uma, duas, mil custódias…

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